sábado, 31 de agosto de 2013

E a sessão nostalgia continua...

Hoje quem abre o baú sou eu. Eu retiro de lá minhas palavras e meus porquês ... meu fazer...minha poesia. Um tempo atrás tive a chance de explicar meu fazer artístico que na verdade se mistura com o que eu realmente aqui faço... e assim nomeei o ensaio  " Arte , Poesia e Vida ".


Ideias
A tarde acaba de adormecer
E uma noite está por vir
Deixo de lado meus utensílios... Supérfluos
E me concentro apenas nelas,
Elas que acabam de surgir, semeando a noite que está por nascer
São minhas idéias que assim como a escuridão tomam conta do céu
Elas tomam a mim
São muitas que se atropelam,
Pisam uma nas outras, brigam por um lugar...
...em papéis que junto a elas surgiram

Marina Brum

                São desses momentos e dessas idéias que meu trabalho artístico surgiu...                    
                O meu fazer artístico e minha produção atual gira em torno de trabalhar a linguagem poética de forma a trazer e ressignificar momentos e lembranças. A poesia está presente em minhas gravuras, desenhos e em tudo que faço.  Costumo dizer, que quando não der pra tirar poesia daquilo que vivo, do meu dia, é por que algo está “pegando”.
                No entanto ao trabalhar a poesia ,isso se dá de forma fragmentada ocultando de certa maneira alguns detalhes deste todo. Aproximo assim da linguagem atual e da realidade em que vivemos hoje, onde temos na maior parte do tempo contato com informações visuais ou não, fragmentadas e repentinas.
                Porém sempre tento devolver a esse mundo um pouco da poesia que podemos retirar de cada dia, sem que sejamos engolidos o tempo todo por um acumulo de momentos passageiros, que nada restam em nossa memória depois. Gosto de salientar que o fragmento é sim parte de um todo e sendo assim ele é por si só sua essência.
                Portanto meus trabalhos procuram muitas vezes refletir a ideia de momento, refletir sobre os meus, os seus e os nossos. De que formas o vêem, de que forma isso nos toca e como nós guardamos pra momentos posteriores.
                 É inevitável falar de fragmentos e não falar dos tantos eu que existem em nós, fragmentos nossos que nos tornam mais de um pra nós mesmos, e contribuem pra nosso crescimento pessoal.
                É nesse momento que acredito que Fernando Pessoa e seus “eus” tenham influenciado meu trabalho, uma vez que ao falar sobre esses “eus” que existem dentro de nós Fernando coloca: “ antes de sermos interior somos exterior / por isso somos exterior essencialmente”[i], e  pra mim isso se dá , essa construção dos vários “eus “ que em nós existem , através dos momentos que vivemos , e do que deles tiramos para nós.
                O conteúdo de minhas fragmentações como coloquei anteriormente registram momentos, na maioria das vezes pessoais, em outros, momentos rotineiros da vida comum a todos. Estes resgatam em minha memória sua impressão, e me remetem novamente aquele instante.
                Pretende também mesmo que de forma fragmentada tocar o observador e sugerir uma reflexão a cerca de assuntos diversos. O fragmento, a palavra em si, proporciona essa abertura e nos indaga a pensar.
                “O fragmento é feito para ser decodificado em sua literalidade, ele esta aí , é tudo, como um objeto e não em termos de formulação subjetiva ele é que como qualquer objeto, indecifrável, permanece inesgotável para o pensamento...”[ii]
                 A palavra como eu disse antes, também nos proporciona essa abertura a reflexão, um bom exemplo disso é o trabalho do artista cearense Leonilson.  Ao trazer a palavra para seus trabalhos, seja escrita ou bordada, ele nos mostrou todo um universo, que apesar de ser primeiramente pessoal, onde coloca seus desejos e suas angustias trabalha também o eu e  nos toca de maneira a pensar os nossos desejos.
                 O que me encanta no trabalho de Leonilson é maneira simples e íntima com que ele trabalha a palavra, despreocupado com regras gramaticais, que ao lermos é como se escutássemos a poesia em nossos ouvidos. Quando escrevo meus momentos, escrevo assim, como se eu repetisse ao pé do ouvido pra mim mesmo aquele instante que quero eternizar.
                Enquanto muitos passam nessa vida somando momentos , porém pouco dele  guardam , eu procuro tirar a essência e a poesia de todos esses momentos, isso me satisfaz e me proporciona outros tantos momentos não melhores ou piores do que os primeiros mas únicos.  Se através do meu trabalho artístico eu conseguir proporcionar um momento único desses a quem o contempla, já me sinto realizada.




[i] PESSOA, Fernando. O Eu Profundo e os Outros Eus  (Seleção Poetica). Rio de Janeiro: Nova Fronteira,2005,p.182


[ii] SCHLEGEL, Friedrich. O Dialeto dos Fragmentos. São Paulo: Iluminuras, 1997, p.82


Marina Brum, 2007.

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